Bem-vindo ao fascinante mundo dos cafés especiais! Para quem está começando nesse universo, entender como os cafés são classificados é um passo fundamental para apreciar melhor cada xícara e fazer escolhas mais conscientes na hora da compra. Este guia para iniciantes mostrará como o café é classificado desvendando os critérios e métodos utilizados pelos especialistas para categorizar os grãos. Nós já abordamos as diferenças entre café tradicional e café especial, vale a pena conferir este artigo, mas aqui falaremos mais precisamente como esta classificação é feita.
Tipos de Café: As Espécies Básicas
O primeiro elemento da classificação envolve as diferentes espécies de café disponíveis no mercado:
Arábica (Coffea arabica): Representa cerca de 70% da produção mundial. É conhecido por sabores mais complexos, acidez agradável e aroma refinado. Cultivado principalmente em altitudes elevadas, é a base dos cafés especiais.
Robusta (Coffea canephora): Contém mais cafeína, apresenta sabor mais intenso e amargo. É mais resistente a pragas e cresce em altitudes mais baixas. Costuma ser usado em blends e cafés solúveis.
Classificação da ABIC: Entenda os Selos de Qualidade
A Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC) criou um sistema que ajuda o consumidor a entender a qualidade do café disponível no mercado nacional.
Café Tradicional e Extraforte
Nota sensorial entre 4,5 e 5,9 pontos
Pode conter mistura de grãos arábica e robusta
Sabor intenso, com maior amargor e adstringência
Ideal para o consumo com leite, açúcar ou adoçante
- Mais barato
💡 Você sabe o que é adstringência no café?
É aquela sensação de secura ou aspereza que sentimos na boca, especialmente na língua e nas bochechas, logo após engolir o café.
Essa sensação ocorre por causa de compostos naturais do grão, como os taninos, e costuma estar mais presente em cafés de menor qualidade — especialmente quando há grãos verdes, defeitos ou problemas no processamento.
Nos cafés especiais, a adstringência em excesso é considerada um defeito sensorial, pois compromete a suavidade e o equilíbrio da bebida.
Café Superior
Nota sensorial entre 6,0 e 7,2 pontos
Maior presença de grãos arábica
Sabor mais equilibrado e agradável
Boa opção para quem busca um pouco mais qualidade no dia a dia
Café Gourmet
Nota sensorial acima de 7,3 pontos
Composto 100% por grãos arábica
Cultivado em altitudes elevadas e microclimas ideais
Torra cuidadosa que destaca sabores e aromas complexos
Ideal para ser apreciado puro, sem açúcar
O Que é um Café Especial?
No mercado internacional, o termo “café especial” ou “café de especialidade” vai além dos selos nacionais. Ele segue critérios definidos pela Specialty Coffee Association (SCA), que é a referência mundial na padronização da qualidade do café.
Classificação SCA: Como Funciona?
A SCA utiliza um sistema de pontuação que vai até 100 pontos. Apenas cafés que atingem 80 pontos ou mais são considerados cafés especiais.
Como o café é avaliado pela SCA?
A análise é feita por Q-Graders, pessoas certificadas que avaliam os atributos do café. Essa avaliação considera:
Aroma: O primeiro contato sensorial com o café
Sabor: A principal característica avaliada
Retrogosto: A sensação que permanece após o café ser engolido
Acidez: Pode ser viva, cítrica, málica, entre outras (confira os tipos mais comuns abaixo)
Corpo: A “textura” do café na boca
Equilíbrio: Como todos esses elementos se harmonizam
Doçura: Fundamental para um bom café especial
Limpeza: Ausência de sabores indesejados
Uniformidade e Defeitos: Consistência entre as xícaras
Importante: Qualquer café que apresentar defeitos primários (como mofo, grãos ardidos ou brocados) é automaticamente desclassificado como especial.
Como Interpretar a Acidez no Café
A acidez é uma das características mais marcantes e desejadas em cafés especiais. Ela traz brilho, complexidade e ajuda a destacar o perfil sensorial da bebida. Mas existem diferentes tipos de acidez — cada um com sabores únicos que você pode identificar na xícara.
☕ Tipos de Acidez no Café
Acidez Cítrica: Lembra limão, laranja ou tangerina. Refrescante e leve.
Acidez Málica: Remete a maçã verde ou pêra. Suave e frutada.
Acidez Tartárica: Acidez presente na uva ou vinho tinto seco. Intensa, com adstringência leve.
Acidez Acética: Semelhante ao toque de vinagre balsâmico. Pode ser interessante em pequenas quantidades, mas negativa se for dominante.
Acidez Láctica: Traz cremosidade, lembrando iogurte natural ou leite fermentado.
➤ Em um café especial bem avaliado, a acidez deve estar equilibrada com o corpo e a doçura, criando uma bebida harmônica, brilhante e envolvente.
Processamento: Como o Grão é Preparado
O modo como o grão é processado após a colheita influencia diretamente no seu sabor. Os principais são:
Natural (via seca): O grão é seco com a casca. Gera cafés com notas doces, frutadas e corpo intenso.
Lavado (via úmida): A casca é retirada antes da secagem, resultando em cafés com acidez acentuada e notas limpas.
Honey (semi-lavado): Parte da polpa é mantida, criando sabores doces com acidez equilibrada.
Origem: A Geografia do Sabor
A região de origem do café afeta diretamente o perfil sensorial:
Brasil: Notas de chocolate, castanhas e caramelo
Colômbia: Equilíbrio entre acidez e doçura com toques cítricos
Etiópia: Cafés florais e frutados, com alta complexidade
Guatemala: Perfis com especiarias, frutas vermelhas e chocolate
Torra: A Arte de Transformar o Grão
A torra altera significativamente o sabor do café:
Torra Clara: Preserva as características da origem, ideal para cafés especiais
Torra Média: Equilíbrio entre acidez e corpo
Torra Escura: Realça sabores tostados, ideal para métodos com leite
Defeitos: O Que Prejudica a Qualidade
Mesmo cafés de boa origem podem perder qualidade por defeitos no grão:
Grãos Pretos:
São grãos que fermentaram excessivamente ou se deterioraram ainda no fruto, geralmente por apodrecimento ou secagem irregular. Têm coloração escura, quase carbonizada, e causam sabores indesejáveis, como amargor intenso e notas de mofo ou queimado. Mesmo em baixa quantidade, impactam negativamente o sabor da bebida.Grãos Verdes:
São grãos colhidos antes do ponto ideal de maturação. Eles têm cor esverdeada mesmo após a torra e trazem amargor e adstringência indesejada. A presença desses grãos indica falhas na colheita seletiva.
Grãos Ardidos:
São grãos que sofreram fermentação indesejada ainda no fruto, geralmente causada por excesso de umidade ou má secagem. Eles têm odor forte e desagradável e geram sabores fermentados, azedos ou até mofados na xícara.Grãos Brocados:
São grãos que foram perfurados por insetos, principalmente a broca-do-café (Hypothenemus hampei). Além de comprometer o aspecto visual do grão, podem trazer amargor acentuado e perda de sabor na bebida.
Conclusão: Um Novo Olhar para Cada Xícara
Entender como o café é classificado vai muito além de uma simples curiosidade — é um convite para descobrir novos sabores, valorizar o trabalho por trás de cada grão e desenvolver um paladar mais atento.
Se você está começando agora, não se preocupe: são muitos detalhes, e tudo bem não absorver tudo de uma vez. O mais importante é ir experimentando diferentes tipos de café, prestando atenção nas sensações e, pouco a pouco, construindo sua própria percepção sobre sabor, aroma e qualidade. Uma boa dica é começar com um grão especial bem equilibrado, como o Frutado da Unique, que entrega doçura, corpo e complexidade.
Cada xícara pode ser uma nova descoberta — e quanto mais você prova, mais aprende.
Aqui no blog, cada artigo é pensado para ajudar você a mergulhar nesse universo de forma leve e acessível. Então, volte sempre e continue explorando com a gente!
Dica para iniciantes: crie um pequeno diário de degustação, anotando origem, torra, método de preparo e notas sensoriais. Com o tempo, você vai reconhecer o que mais gosta em cada xícara.
E você? Qual tipo de café costuma consumir?
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Bom dia! Sempre tive curiosidade em como funciona a essa classificação. Poderia explicar o que seria adstringência?
Adstringência é uma sensação de que a boca ficou seca ou áspera, similar ao que acontece quando bebemos um vinho tinto seco ou comemos uma banana verde. A grande diferença é que no vinho esta sensação é desejável e harmoniza com a acidez, corpo e demais características do vinho. Já no café essa característica geralmente vem acompanhada de amargor excessivo e denuncia defeitos em algum dos processos.
Obrigado pela tua colaboração. Adicionei uma explicação no artigo para ajudar os próximos leitores !